AULA 5.3 - REVOLTAS E MOVIMENTOS DURANTE A REPÚBLICA OLIGÁRQUICA

Revolta da Vacina

Devido a existência de constantes epidemias de várias doenças no país, o presidente Rodrigues Alves nomeou o médico sanitarista Oswaldo Cruz para que este pudesse tomar alguma providência quanto a esse problema. As medidas adotadas por Oswaldo para o combate a peste bubônica foi a organização de um grupo de homens que saiam pela cidade espalhando veneno para ratos e retirando lixo das ruas, contando ainda com um bônus dado em dinheiro para as pessoas que ajudassem na caçada aos ratos, ação apoiada pelo povo.

Já no combate a febre amarela, Oswaldo Cruz organizou grupos de funcionários de saúde chamados de "brigadas mata-mosquitos" que, juntamente com a polícia, invadiam prédios e eliminavam os mosquitos causadores da doença. Ainda tinham autorização para internar as pessoas já infectadas e dependendo da situação, demolir os prédios. Essa medida funcionou muito bem, reduzindo a zero o número de casos da doença.

Porém um tempo depois, durante a campanha de vacinação contra a varíola, foi publicada a notícia de que o Congresso aprovou a Lei da Vacinação Obrigatória, proposta por Oswaldo Cruz, e gerou insatisfação imediata da população. A falta de informação acerca da vacinação e uma série de preconceitos como o fato de ter que se despir para ser vacinado e o medo de mutações após tomar a vacina, foram as causas para que a população se revoltasse e fosse ao centro da cidade protestar contra a lei. Quando a polícia foi acionada, a situação piorou, os revoltosos reagiram às forças policiais quebrando bondes e carroças e saqueando lojas, ali se instaurava uma verdadeira guerra civil no país. No fim desse episódio, cerca de 30 pessoas morreram e centenas foram presas e mandadas ao Acre para fazer trabalho forçado. 

Em relação a saúde, várias doenças foram erradicadas, fazendo das medidas de Oswaldo Cruz um sucesso e ele inclusive dá nome ao Instituto Oswaldo Cruz, muito famoso no Brasil. Mas no âmbito sócio geográfico esse episódio, atrelado aos ideais de modernização propostos o Rio de Janeiro, contribuiu para que as camadas mais pobres da população fosse expulsa do centro da cidade e jogada às margens, criando as "favelas" que tem consequências que se perduram até hoje no estado.



Revolta da Chibata

Em 1910, na Marinha brasileira surgiu-se um movimento contra as situações de trabalho impostas aos marinheiros. A revolta foi liderada pelo gaúcho João Cândido Felisberto, marujo e analfabeto, ele foi a voz no movimento que exigia o aumento dos salários, diminuição da jornada de trabalho e a principalmente o fim dos violentos castigos físicos dados aos marinheiros de baixa patente. Os marinheiros de baixa patente eram formados em sua grande maioria por negros, mestiços e pobres, estes eram castigados fisicamente por qualquer motivo. Os castigos eram sempre com o uso de chicotes, ação proibida desde 1889 com a Proclamação da República mas que até 1910 era praticado na marinha brasileira. 

A revolta eclodiu quando o marinheiro Marcelino Rodrigues foi sentenciado a pena de 250 chibatadas a bordo do navio brasileiro encouraçado Minas Geraes. Vários marinheiros foram convidados a assistir a morte de Marcelino, o que gerou ainda mais raiva nos marinheiros.

Em 22 de novembro de 1910, após uma saída do comandante Batista Neves do encouraçado, os marinheiros liderados por João Cândido se apossaram do navio e armaram uma emboscada para o comandante. Retornando em um barco menor, Batista Neves teve sua embarcação fuzilada e morreu ali mesmo. Os revoltosos enviaram um telegrama ao presidente vigente, Hermes da Fonseca, onde ameaçaram bombardear a cidade do Rio de Janeiro se suas reivindicações não fossem atendidas, episódio parecido com a Revolta Armada de 1893.

Depois um bom tempo de negociação com o governo, os marinheiros teriam anistia e suas reivindicações aceitas se entregassem as armas, condição imposta pelo Senado. Após os marinheiros largarem as armas, o governo descumpriu o acordo.

Duas semanas depois no Rio Grande do Sul, em um navio na Ilha das Cobras, iniciava-se outra revolta, mas dessa vez com represália do governo que ordenou o ataque a ilha e a perseguição dos participantes das duas revoltas. Muitos foram mortos e outros presos e enviados ao Acre para trabalhar forçado.

João Cândido, o Almirante Negro, como ficou conhecido, sobreviveu as perseguições do governo e tempos depois julgado inocente, mas nunca foi reconhecido pela Marinha como um marinheiro e sua família não recebeu nenhum tipo de auxílio ou pensão após sua morte. Em 2008 o presidente Lula tentou aprovar uma lei que daria anistia para o marinheiro e garantiria pensão para a família de Cândido, o que também o faria ser reconhecido como almirante, mas foi vetada. No mandato do presidente Lula ainda inaugurou-se uma estátua de João Cândido no centro da cidade do Rio de Janeiro na praça XV de Novembro como símbolo de sua luta por direitos.


Revolta do Contestado

Em uma região de fronteira entre Paraná e Santa Catarina existia um vasto campo de plantação de erva-mate que era contestado por esses dois estados, explicando o nome dado a revolta. Os donos das terras que ali moravam foram expulsos por grandes companhias empresarias que tinham interesses econômicos nas plantações. 

A Brazil Railway Company era uma empresa dos Estados Unidos responsável pela construção de uma ferrovia que ligaria o Rio Grande do Sul a São Paulo. Essa empresa ainda detinha os direitos de exploração às margens do caminho da ferrovia, onde foram contratadas serrarias modernas para exploração de madeira, tirando o sustento dos trabalhadores da região que viviam da exploração madeireira.

Com esse desamparo das pessoas que agora não tinham nem terras e nem empregos, o messianismo ganhava força, visto que os chamados "messias" procuravam ajudar a população com suas práticas religiosas. Assim, o "monge" José Maria ganhou destaque em meio a população. 

Seguindo as crenças de Miguel Lucena Boaventura, um católico, monarquista e ex-soldado do exército, José Maria acreditava na lenda messiânica de São Sebastião, antigo rei português que morreu na batalha de Alcácer-Quibir, por volta do século XVI, o qual o corpo nunca foi encontrado, o que propiciou uma série de mistérios quanto a sua morte. Acreditava-se que ele iria retornar a vida e reerguer novamente o Império português

A população via no “monge” José Maria uma figura em que poderiam seguir e dar outro rumo a suas vidas. Eles fundaram a comunidade Quadro Santo, onde sobreviviam roubando gado das propriedades próximas. Eles mantinham ideais monarquistas afirmando que a República roubava a terra dos trabalhadores e que a legislação, apelidada por eles de "lei do diabo", aprovava essas práticas. Eles pregavam a que era preciso organizar uma Monarquia Celeste. Em 1914, diversos jornais publicaram  manifesto um criado por eles chamado Monarquia Sul-Brasileira.

Mas assim como em Canudos, o crescimento da comunidade incomodou as forças locais do Paraná, que comunicaram ao presidente Hermes da Fonseca solicitando apoio para que o problema fosse resolvido. Depois de incríveis oito expedições enviadas para destruir o movimento, inclusive usando aviões, em 1915 o "monge" José Maria morreu ainda resistindo as tropas do governo mas o exército conseguiu pôr fim na comunidade deixando mais de 3 mil mortos.

Cangaço

O episódio do Cangaço foi marcado pela presença de gangues de sertanejos que se contrapunham a desigualdade social existente no período entre 1870 e 1930, protagonizando assaltos nas cidades e invasão de terras, roubando dos ricos para dar aos pobres. Fenômeno conhecido como "banditismo social", marcado pela presença de grupos que reagiam a relação de subordinação existente entre eles e os grandes proprietários de terras. 

Transtornado com a morte do pai na infância em disputa de terras, Virgulino Ferreira da Silva, vulgo Lampião, cresceu com essa mágoa que certamente o motivou a entrar pro cangaço. Tem esse nome possivelmente devido a sua habilidade e rapidez com que atirava com armas de fogo. 

“Atirei tanto a ponto de a minha espingarda ficar com a labareda acesa”

Não se tem confirmação que essa frase foi dita por ele, mas o que se sabe é que ele realmente era sagaz com as armas e liderou a quadrilha de cangaceiros composta ainda por Jesuíno Alves de Melo Calado, vulgo "Jesuíno Brilhante", Cristino Gomes da Silva Neto, vulgo "Corisco", e sua mulher Maria Gomes de Oliveira, a "Maria Bonita".

Esse grupo foi responsável por vários ataques a cidades do interior do Nordeste como Queimadas, na Bahia, e Limoeiro do Norte, no Ceará, saqueando casas e estabelecimentos e colocando terror por onde passavam. O governo federal não se empenhava em fazer nada em relação ao cangaço, o que levou o governo estadual a criar tropas de policiais chamadas de "volantes", composta por policiais não oficiais que empunhavam os mesmos métodos dos cangaceiros a população pobre, para acabar com os cangaceiros.

Até que em 1938, uma volante comandada por João Bezerra, depois de um longo confronto armado na fazenda de Anjicos, em Sergipe, conseguiu capturar e matar onze cangaceiros, entre eles  "Lampião" e sua companheira "Maria Bonita". Todos tiveram suas cabeças cortadas e mandadas ao museu Nina Rodrigues, em Salvador, mostrando a brutalidade existente na época. Tempos depois "Corisco" cangaceiro sobrevivente e que ainda queria vingar o seu grupo, também foi morto em um cerco policial.

O fim do cangaço se deu em meados de 1940, quando se deu a transformação social e econômica do país causada pela industrialização e iniciou-se o êxodo rural, a população do sertão começou a se deslocar para o sudeste afim de trabalhar nas novas fábricas que também precisavam de mão de obra. Desse modo, as causas do fenômeno do cangaço não eram mais válidas, o que colocou fim no movimento. 


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