AULA 5.1 - O GOVERNO DE PRUDENTE DE MORAIS E A GUERRA DE CANUDOS
Prudente de Moraes foi o primeiro presidente civil a governar o Brasil. No fim do governo de Floriano Peixoto, ele vence a eleição contra Afonso Pena e consolida a fase conhecida como "A República das Oligarquias", nome que se dá ao período de total domínio dos cafeicultores mineiros e paulistas na política brasileira.
Uma de suas primeiras medidas foi estabelecer a ordem no país colocando um ponto final, pacificamente, na Revolução Federalista, anistiando os líderes do movimento. Ficou conhecido assim, como um governante "pacificador", visto que evitava qualquer tipo de conflito. Ele enfatizava:
“Sou Prudente no nome, prudente por princípios, e prudente por hábito. Sou também prudente, procurando evitar questões pessoais odiosas.”
Ao longo de seu governo resolveu as questões de fronteiras na Região das Missões, colada com a Argentina. Reestabeleceu as relações diplomáticas com países como Inglaterra, França e Portugal. Apresentou uma iniciativa para estabilizar a economia do país e amenizar a inflação. Mas ao tentar equilibrar a situação econômica, devido as consequências perduradas da Crise do Encilhamento, Prudente teve que pedir empréstimos para conter a inflação, atitude que aumentou a dívida externa do país.
Em contraponto aos ideais nacionalistas e modernizantes dos governos passados, Prudente mudou as taxas alfandegárias protecionistas, medida que dificultava a importação de produtos e a concorrência estrangeira, abrindo o mercado interno do país às importações.
Devido a situação geográfica e social do Nordeste, desencadeou-se no mandato de Prudente, um conflito que tinha como centro disputa pela posse de terras pela população de baixa renda. Os grandes proprietários agrários, chamados de coronéis, detinham uma grande quantidade de latifúndios improdutivos, terras sem utilização, isso deixava a população pobre do sertão em um estado de completa precariedade já que tinham que aceitar as determinações dos coronéis pois não possuíam terras. As péssimas condições de trabalho atreladas ao clima seco, típico do Nordeste, destruía as plantações, secava a água que armazenavam nos reservatórios e matava o gado, fazendo milhares de sertanejos morrerem de fome e sede ano após ano.
Essa situação crítica em que viviam os pobres do sertão era causa de muitas revoltas por parte da população, que se rebelava contra os coronéis formando grupos de cangaceiros e roubando tudo que podiam de suas fazendas. A vingança era a motivação com que esses grupos mantivessem essa postura de terror, que assustava a população.
A necessidade da população de possuir algum líder, alguém que pudessem seguir, contribuiu para o aparecimento de beatos ou conselheiros. Assim, eram formadas comunidades com muitos seguidores e um líder que comumente pregava ideias religiosas, conhecido como "catolicismo popular", fugindo do catolicismo conservador, pregado pela Igreja, que repudiava essas comunidades.
Antônio Vicente Mendes Maciel, o Antônio Conselheiro, era um estudioso que trabalhava como solicitador, enviando petições ao Judiciário, como escrivão de cartório e como rábula, advogado que não possuía diploma. Era um homem respeitado profissionalmente, mas a notícia que sua mulher havia o traído o desmoronou completamente, fazendo ele andar sem rumo pelos estados do Nordeste.
Para garantir o sustento próprio, ele seguiu o ofício do pai que já havia morrido, trabalhou de construtor reformando igrejas e capelas. Com esse trabalho e as influências do padre Ibiapina, beato sertanejo, ele passou a estudar os Evangelhos e também pregar para outras pessoas, ficando popularmente conhecido e conquistando muitos fiéis.
Mas a fama de Antônio Conselheiro incomodava os coronéis, que perderam muitos subordinados para a comunidade, e até outros padres que cada vez mais perdiam fiéis e viam sua popularidade diminuir. Assim, foram inventadas muitas notícias falsas acerca de Conselheiro, como a de que ele havia matado sua esposa, levando ele a ser preso no estado do Ceará. Quando inocentado, Conselheiro ganhou ainda mais respeito pelos seus seguidores, que o viam como um herói. Foi aí que, as margens do rio Vaza-Barris, no norte da Bahia, que Antônio Conselheiro e seus fiéis estabeleceram, em uma fazenda abandonada na região chamada de Canudos, um vilarejo com cerca de 20 mil pessoas o qual nomeou de Belo Monte. A comunidade sobrevivia com plantações e criação de gado, vendendo ainda os alimentos que sobravam para cidades vizinhas. Assim o arraial de Belo Monte conseguia diversos bens, inclusive armamentos para se protegerem.
Tendo em vista a grandiosidade que estava tomando a comunidade, os coronéis e os padres passaram a exigir ao governo da Bahia que acabasse com o arraial. Em frente à mídia, jornalistas acusavam os sertanejos de apoiarem a monarquia, se referindo a eles como bando de "degenerados".
Começaram-se então as expedições militares contra o arraial. A primeira, composta por 120 militares e liderada pelo tenente Manuel Pires Ferreira, foi completamente destruída pelos fiéis de Conselheiro. A segunda, tinha como líder o major Febrônio de Brito e desta vez levava 500 homens, mas mesmo assim os fiéis venceram novamente. Uma terceira expedição foi organizada e contava agora com 1200 homens chefiados pelo coronel Moreira César, um importante nome do cenário militar e considerado por muitos um herói nacional. Houveram milhares de mortos nessa expedição que terminou com uma nova derrota dos militares e com o coronel sendo morto.
Diante da terceira derrota, o governo federal precisou intervir. O ministro da guerra, Carlos Bittencourt organizou uma nova expedição formada por 6 mil homens com armamento pesado e comandada pelo general Artur Oscar. Após cercarem o arraial por cerca de três meses, em 5 de outubro de 1897 as tropas de Oscar bombardearam a local e depois invadiram, matando todos que ali estavam inclusive velhos e crianças.
E assim terminou Guerra de Canudos, deixando a imagem da brutalidade e do verdadeiro massacre sofrido pelos pobres sertanejos nordestinos.
Várias pessoas de diferentes camadas da sociedade criticaram o presidente Prudente de Morais pela tamanha violência usada contra o arraial. Esse episódio é muito bem retratado pelo escritor Euclides da Cunha em sua famosa obra "Os Sertões" em que narra, na sua visão de jornalista, esse conflito ao qual acompanhou.
No retorno das tropas militares, em meio a comemoração da vitória no conflito, o presidente Prudente de Morais foi vítima de um atentado por um soldado, declarando estado de sítio no país. Essa foi a última tentativa dos florianistas ainda restantes contra o governo. Se perduraria então, por muitos anos, o domínio da oligarquias no governo.
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